Condução I

Sexta-feira, esteve sol.
Estava eu em casa, vestida na minha roupinha confortável e quentinha quando ouço:
- "Despacha-te, vá, vamos ao supermercado que é muita coisa e eu não consigo subir as escadas com tudo!"
(Porque raio é que este prédio não tem elevador?!)
- "Oh mãe, mas aborrece-me sair e ainda ter de andar até ao supermercado!"
- "Também a mim... Vamos de carro."
- "Tens a certeza?!"
(O medo da condução da minha mãe ainda existe!)
- "Sim, há pouca gente na rua, foi tudo de férias da Páscoa. Vá, vai-te vestir!"

(...)

- "Pronto, e agora, vamos para casa?"
- "Está sol, apetece ficar na rua."
- "Pois é. Mãe, liga o rádio."
- "Vamos passear? Assim o carro sempre anda!"
- "Vamos, vá. Mas não ligues isso muito alto!"
- "Oh avô, mas isto é para se ouvir alto!"


"You're love alone, is not enough, not enough, not enough..."*

- "Esta gente nesta parte da cidade é simpática, esta parte é... Onde é que nós estamos?"
- "Algures em Matosinhos, acho eu. Vamos ver se sei voltar para casa agora!"


"It's what you felt, is what you said, what you said, what you said..."*

- "Oh avô, a minha mãe sabe por onde vai! Não havemos de sair do Porto (acho eu...)!

"You said the sky would fall on you, fall on you, fall on you..."*

- "Pronto, estamos em casa!"
- "E conduziste muito bem, mãe. Já lhe apanhaste mesmo o jeito. Estava-se bem. Foi giro o passeio!"

(O medo da condução da minha mãe já se foi.)

*"Your Love Alone Is Not Enough", Manic Street Preachers.