Understanding.

Estava eu ali, sentadinha no banco do autocarro, com a minha mãe já a dormir ao lado, os headphones nos ouvidos, e toda a gente a falar, sem, no entanto os ouvir. Estava mais concentrada na voz do David Fonseca, nesse dia.
O facto de o motorista do autocarro não fazer curvas assustadoras era bom, o outro, do ano passado ia-se estampando três vezes.
E ia eu a pensar porque raio estava a faltar a duas aulas para ir a um baptizado ver membros da familia dos quais eu não me lembro, não conheço, e sinceramente também não quero.
E depois pensei, "ah, mas eu não vou por causa do baptizado, eu vou porque depois vou ter com eles, passear, fazer macacadas daquelas que já só fazemos uma vez por ano!"
E também me apercebi pelo caminho que gosto de andar de autocarro. Gosto destas viagens de oito horas, onde me ponho a tirar fotografias pela janela do autocarro, e onde acabo por viajar uma parte de noite. É lindo.
Sinto que posso imaginar, sonhar, ver uma outra parte do mundo.
E com tanta coisa, as oito horas acabam e eu saio em Santo André, e tenho o meu padrinho à espera. Acho tanta piada ao meu padrinho. É meu primo em segundo grau, completamente apanhadinho da cabeça (é mal de familia, pelos vistos), era quem dava as desculpas à minha avó para a minha mãe sair à noite quando era adolescente (ele é pouco mais velho que ela) e faz o mesmo comigo.
À medida que ando pelas ruas de Santo André, aquele gosto do conhecido, do antigo faz-me sorrir. O baloiço onde andava quando tinha 3 anos, e que me lembro bem. A cabana onde iamos brincar, que entretanto já desapareceu. E, enquanto olho para o telemóvel, para perceber que são 3 da manhã e que estou a sair de um bar com a minha mãe e o meu padrinho, olho para todos os lados e vejo a casa dele.
E estou eu ali, na rua, a pensar: "só espero que ele não esteja na rua e não entre em casa agora. Só espero que este fim-de-semana não tenha de o ver. Não foi para isso que vim cá."