A insónia bate-me à porta, e, apesar e não a querer deixar entrar, parece que ela afinal tem chave.
A janela aberta, com os estores levantados deixam-me ver o céu nocturno, negro e frio, pronto a desferir o golpe de desaparecer na luz, deixando-me assim, à vista, sem lugar para esconder os defeitos, porque à luz todos nos vêm os lados mais sombrios.
O silêncio fez-me assim, pequena, desinteressada, fria. O silêncio fez-me assim, mas qual é a importância disso? De noite ninguém se vê, esconde-se tudo na noite sem estrelas.
A manhã chega-se a mim de mansinho, arrancando-me aos lençois. Não, fico na cama mais um bocadinho, que aqui dentro está-se a salvo, e está demasiado frio lá fora.
O espelho olha-me, frio, calculista, risonho. As olheiras fundas, que teimam em não desaparecer vêm-se maiores na minha face pálida e vaga. Passo as mãos pelo cabelo, com o verniz escarlate lascado a dar-me um ar de quem andou fugida.
O frio fez-me assim, branca, parada, inquieta. O silêncio vem de novo, no meio de toda esta gente.
A insónia já entra sem bater, já é como familia. E o silêncio...
O silêncio fez-me assim, pequena, desinteressada, fria. O silêncio fez-me assim, mas qual é a importância disso?
Se tudo à minha volta é silêncio, e eu não gosto de pensar nisso.
(Um dos meus!)
1 comentário:
está tão bonito! :$
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